O "Testamento de Judas Escariote" foi sempre uma tradição que emanou do povo. Por isso era tão"temido" como "ansiado". O seu conteúdo provinha das conversas de esquina e café, das "verdades" dos "diz-que-diz" e atravessava toda a sociedade, desde os mais poderosos aos mais humildes. Era um testamento do povo e para o povo, mas também um sério aviso para os poderosos, sinal de que o povo estava atento e, pelo menos uma vez no ano, reprovava e apontava publicamente os seus defeitos.
Durante muitos anos, sobretudo depois do desaparecimento do seu mentor, o popular Guerrinha, o "Judas limiano" desapareceu, esteve num estado de letargia, reaparecendo na década de noventa mercê do impulso municipal. Foi a municipalização de uma tradição popular. Goste-se ou não, foi uma forma de a repor no extenso calendário das tradições limianas, onde se contam também a Vaca das Cordas, a Serrada da Velha, os tapetes do Corpo de Deus, entre outras.
Mas a municipalização do Judas trouxe consigo a descaracterização do Testamento, que passou a ser mais orientado pela actualidade mediática e o ataque ao contra-poder, salvaguardando sempre a "preciosa" imagem dos seus novos progenitores.
Hoje, pela mão do Unhas do Diabo, desmunicipalizada que está novamente a tradição, passando para uma associação sem fins lucrativos, essa marca indelével ainda se mantém.
A identificação do Judas que "espicha" no sábado de Aleluia, é um dos mais "castiços" exercícios guardado para o comum do cidadão para esse dia. Normalmente trata-se de alguém que, por palavras, actos ou decisões muito tenha prejudicado o concelho, merecendo tamanho castigo após leitura do respectivo testamento. Em 2008, parece que não subsistiram grandes dúvidas relativamente ao destinatário.
Ora já vimos "espichar" ministros e outros responsáveis políticos que o concelho não gostaria que voltassem ao seu território. Nunca vimos "espichar" um simples cidadão comum, que por emitir livremente a sua opinião, alinhada ou não alinhada, correcta ou não, radical ou moderada, é a sua e só a ele o compromete. Se o Homem gosta do Eng. Sócrates, o idolatra e tem posters no seu quarto, é um problema seu e, com essa atitude, não compromete ou fere seja quem for. Até os vanguardistas blogues, são definidos como diários pessoais, que apenas comprometem os seus autores. Se ofendidos houver com o seu conteúdo, a justiça que entre em acção. Mas não nos parece ser este o caso...
O Judas limiano, enveredou pelo pior caminho: atentou contra a liberdade de expressão e opinião. Este Judas não é do nosso tempo, é um "resquício" da PIDE e um sinal de que, por detrás da capa democrática, existe sempre um tique censor ou inquisitor nesta terra.
O Judas está a comprometer o seu próprio futuro. O Guerrinha, não deve estar nada satisfeito com o que viu lá de cima, nesta fim-de-semana. A criatura traiu o seu prórpio criador!
Sobre a mesma questão, a nossa opinião no ano anterior: 2007