Reflexão de fim-de-semana
O CENTRALISMO E OS NOVOS CENTRALISTAS
Viver na "província", como lhe chamam em Lisboa, não é pêra doce. É viver imerso numa luta permanente contra as concepções de burocratas, desconhecedores da realidade de um Portugal multifacetado, cheio de especificidades, diferente do litoral para o interior e de Norte para Sul.
O Alto Minho não foge a esta regra. Tem litoral e tem interior, tem montanha, vales, planaltos e zonas planas mais perto do mar, o povoamento é disperso e possui algumas pequenas zonas urbanas, embora impere a ruralidade.
Em Lisboa desconhecem esta realidade e desenham medidas e soluções para os problemas do país pelo "bitola" da capital, afinal, a única que conhecem.
Vai daí, o critério populacional (o rebuçado por x habitantes) é o mais caro aos burocratas da capital, que encaixa como uma luva na sua realidade. Mas se tivessem conhecimento da "outra" realidade, entenderiam porque é que as populações protestam, porque saem à rua, porque se indignam, porque é que querem dar viabilidade a regiões que, com as bitolas dos burocratas de Lisboa, estão condenadas à desertificação e ao desaparecimento. Não é um problema técnico, as respostas só podem ser encontradas na profunda ignorância dos nossos burocratas do "rebuçado por x habitantes".
É o que está a acontecer com os serviços de urgência, é o que aconteceu com as maternidades, é o que pode acontecer com as forças de segurança, etc., etc.
Compreendo e apoio as reacções sustentadas na defesa dos interesses de quem os elegeu, dos autarcas do Alto Minho, de instituições e gentes do distrito que se revoltam contra o movimento cego e descontrolado de encerramento de serviços. É uma luta pela dignidade e pela viabilidade de uma região.
Mas o que mais dói, o que mais nos revolta é, por um lado, a cegueira dos que encontram a solução na "lógica nacional", na "lógica racional" ou, o que é ainda mais incoerente, na "lógica política".
A sobrevivência do Alto Minho não está nos partidos, está nas pessoas, nos que lutam independentemente do partido que está no poder, dos que defendem a sua terra antes de se vergarem em vassalagem ao poder e à lei dos burocratas.
Por isso, por muito questionáveis que tenham sido os métodos, nutro simpatia pela luta de Daniel Campelo, José Luis Serra ou Francisco Araújo porque o fazem por si, pelos seus filhos, pelos seus conterrâneos, por aqueles que os elegeram e por aqueles que não votaram neles mas remam contra a maré e continuam a viver no Alto Minho, por uma terra, por um distrito, por uma região que não conta nada para Lisboa mas que é tudo para aqueles que, como nós, nela nasceram e nela querem viver por muitos e longos anos.