RIO DE MEMORIAS QUE TODOS DEVEMOS PROTEGER
Recentemente, a Câmara Municipal de Ponte de Lima promoveu, em colaboração com o Clube Náutico de Ponte de Lima uma descida do Rio Lima, com o objectivo de sensibilizar autarcas, dirigentes associativos e de instituições locais para a necessidade de preservar o Rio Lima e o belíssimo vale que o envolve. A descida foi efectuada em canoa e permitiu, pelo menos três coisas:
- Testar a condição física dos participantes, pois tiveram que pagaiar entre o cais da Garrida, em S. Martinho da Gandara e Ponte de Lima;
- Verificar a grande beleza e potencialidades do Vale do Lima, visto a partir do seu interior;
- Constatar que há ainda muito a fazer, tanto para corrigir erros do passado, como para evitar agressões ambientais no presente.
Hoje em dia, o rio do esquecimento dos romanos, inspirador de António Feijó, António Ferreira, Teófilo Carneiro, Diogo Bernardes e muitos outros poetas da Ribeira Lima já não tem as águas límpidas de outrora, já não corre no silêncio das suas próprias margens, cada vez mais ocupadas e sujeitas à especulação e avidez de empresários e particulares, que ainda pensam, de uma forma demasiado egoísta, que a sua desejada qualidade de vida não prejudica a dos outros. Mas são também as políticas, do poder central ou local que, não olhando para a valiosa herança dos nossos antepassados, não evitam a tentação de prejudicar o maior tesouro que a humanidade pode possuir: a qualidade do ambiente e a preservação da riqueza natural do nosso Planeta. O cuidado com o bem comum é responsabilidade de todos, um dever colectivo, uma expressão da mais profunda cidadania. Intervenções na natureza ou que dela tirem algum proveito devem ser objecto de discussão prévia, o mais alargada, profunda e universal possível. Não é uma discussão pública de um estudo de impacto ambiental, que decorre num curto espaço de tempo e é baseado em documentos essencialmente técnicos, que legitima uma intervenção – boa ou má. Só um debate sério e esclarecido, precedido de ampla divulgação pode viabilizar um projecto que utilize ou condicione o bem natural.
Nos últimos anos, muitas intervenções têm sido levadas a cabo nas margens do Rio Lima. Se umas o respeitaram, outras lamentavelmente usaram-no, prejudicaram-no e enfraqueceram-no. E a todos os limianos também. Por isso, numa atitude preventiva e legítima, devemos exigir que, com clareza, sejam devidamente esclarecidos os contornos e as consequências de quaisquer intervenções ou projectos delineados para as margens do Lima. Da nascente até à foz. O Lima, que já teve águas mais límpidas, é uma das maiores riquezas da região, que não podemos perder, custe o que custar.