quarta-feira, julho 30, 2003

A polémia do Pacto para o Desenvolvimento do Alto Minho



O MINHO ACABA MUITO ALÉM DO DISTRITO DE BRAGA
Desde a entrada em funções da nova Reitoria da Universidade do Minho, têm sido lançadas propostas e projectos concretos de colaboração daquela Universidade com diversas entidades públicas da região, com o objectivo de colocar o enorme e valioso know-how da universidade ao serviço do desenvolvimento sustentado e do combate às assimetrias existentes no Minho.
A última iniciativa consiste na proposta de um Pacto Regional, com vista à constituição de um Fórum que visa “a promoção do desenvolvimento equilibrado da região, orientado à correcção de assimetrias”. Esta é uma iniciativa que se saúda, pela sua coragem, por ser uma pedrada no charco que tem sido uma região Minho multifacetada, com interesses antagónicos e que tem vivido, invariavelmente, com os seus protagonistas de costas voltadas, com cada “quinta” entregue ao seu “senhor”. O trabalho que tem pela frente o Reitor da Universidade do Minho é enorme, pois terá que juntar o que sempre esteve desunido, terá que impor uma só voz num espaço onde todos falam e, muitas vezes, ninguém tem razão ou é ouvido.
Como contributo para o debate que esta questão suscitou, gostaria de aqui deixar algumas reflexões e reticências que, a serem ultrapassadas podem fazer com que a iniciativa do Dr. Guimarães Rodrigues constitua um êxito, que desejo por entender que esta grande região merece mais e melhor do que aquilo que o passado lhe tem proporcionado.
A Universidade do Minho tem muito para dar à região que lhe dá o nome. Contudo, depois de um passado com trinta anos, é de lamentar que só agora tenha lançado as bases para ultrapassar a dolorosa realidade das assimetrias, que são tão grandes entre o Minho e as regiões mais desenvolvidas do país, como o são, por exemplo, entre o distrito de Braga e o de Viana do Castelo. Não é fácil ver as assimetrias do Alto Minho a partir de Braga. Logo no pontapé de saída, que consistiu num encontro preparatório, poucas foram as autarquias do distrito de Viana do Castelo que se fizeram representar. Sinal de pouco interesse? Sinal de desconfiança? A ausência dos representantes da Associação de Municípios do Vale do Lima e as reticências levantadas pelo Presidente da Associação de Municípios do Vale do Minho, Rui Solheiro na reunião realizada em Monção, são demonstrativas do reduzido entusiasmo que reina no distrito de Viana do Castelo. E alguns argumentos apresentados são legítimos e devem ser levados na devida conta. Envolvendo esta pretensão da U. M. toda a região, foi notada a ausência de uma Instituição do Ensino Superior do Alto Minho, neste caso o Instituto Politécnico de Viana do Castelo, e de uma estrutura representativa dos sindicatos deste mesmo distrito. Esta iniciativa pareceu, pois, estar talhada para envolver mais as instituições do distrito de Braga do que as do distrito de Viana do Castelo, o que a pode direccionar para uma área geográfica mais restrita, deixando de fora o distrito do Minho mais necessitado de uma estratégia de desenvolvimento sustentado para esbater as enormes assimetrias relativamente a outras zonas do País. Dir-me-ão que se pretende partir de um núcleo mais restrito, alicerçado nos concelhos mais fortes de Braga, sindicatos desse mesmo distrito e Universidade do Minho, que será gradualmente alargado a outros parceiros, que fortalecerão este movimento. Concordo. A metodologia parece estar correcta, os princípios é que estão desajustados. Para promover um desenvolvimento sustentado e para corrigir assimetrias, é imprescindível não que estejam todos desde o início, mas que toda a região esteja presente, confie e se reveja no “núcleo duro” do movimento que se coloca em marcha, o que obviamente não aconteceu. O Dr. Guimarães Rodrigues, que tem provado que é um Homem com ideias e projectos para a região, tem agora a oportunidade de acertar o rumo deste Pacto que quer colocar em andamento e que, estou convencido, poderá ajudar o Minho a chegar a outros patamares de qualidade de vida e de desenvolvimento.
Por outro lado, sem qualquer sentimento de índole regionalista ou mesmo bairrista, parece-me que dois pontos parecem emergir de toda esta questão. Em primeiro lugar, existe um apagamento e falta de protagonismo do Instituto Politécnico de Viana do Castelo, no campo da abertura à comunidade e participação na elaboração e implementação de estratégias de desenvolvimento na sua área de influência. Por outro lado, a Universidade do Minho, por muito que tente dizê-lo, ainda não tem uma influência e uma estratégia para todo o Minho, centrando-se antes no triângulo Braga-Guimarães-Famalicão, esquecendo a verdadeira dimensão da região em que está implantada e que devia servir de outra forma, designadamente através da instalação de um pólo no distrito de Viana do Castelo, bem à semelhança daquilo que, em boa hora, fez em Guimarães.
Para finalizar, uma boa forma de ilustrar a forma distorcida como se vê a região Minho a partir de Braga, uma referência a uma discussão, nestes momentos em curso naquele distrito – a criação de uma “Área Metropolitana do Minho”, mas que, a ser concretizada, terá apenas como parceiros municípios do distrito de Braga. A palavra Minho tem um significado e um alcance muito diferente daquele que lhe querem dar, para os lados do Cávado, do Este e do Ave.

João Carlos Brandão Gonçalves
jocabrago@nortenet.pt