quarta-feira, agosto 01, 2007

A Assembleia Municipal de Ponte de Lima e o comércio limiano (5)

Amândio Pereira (CDS/PP): “Este trabalho peca por só ter ouvido os comerciantes (pois há os que vivem bem) e também por não ter contemplado os consumidores”; “Eles foram a tempo e horas favorecidos para se modernizarem e formarem uma central de compras”; “Estas conclusões mais parecem uma proposta eleitoral do que a defesa dos comerciantes”.

Comentário: A intervenção do Sr. Armando Pereira personifica uma retrógrada forma de pensar e ver a realidade, que impedem o desenvolvimento económico local: em primeiro lugar, não se podem discutir os problemas pensando que existem pessoas que, aparentemente, vivem bem. Da mesma forma não se pode pensar nos que vivem mal e têm problemas porque, ao procurar intervir nessas situações, vão também ser favorecidos aqueles que, vivendo mal, possuem meios para viver melhor ou declarações de rendimentos que os colocam ao nível dos que devem ser ajudados (veja a acção social escolar no primeiro ciclo). Por isso não se mexe em nada, desconfia-se de tudo e todos, porque os interesses são uma ameaça à democracia!
Ora, o que está em debate são os problemas do comércio e dos comerciantes. Ouvir os consumidores seria descontextualizar a questão, porque a dicotomia existiria sempre. Veja-se a posição claramente de consumidor do Sr. Amândio Pereira: o problema é dos comerciantes, queixam-se mas vivem bem, eles que resolvam o problema… Se os comerciantes fossem ouvidos sobre a instalação das médias e grandes superfícies, julgo que se oporiam, mas não foram e elas foram instaladas; se fossem ouvidos sobre a saída de serviços do centro histórico, com toda a certeza se oporiam, mas ninguém os questionou; se fossem ouvidos sobre o encerramento de ruas ou a retirada de espaços de estacionamento, ou mesmo a construção de grandes parques na periferia da vila, estou seguro que prefeririam estacionamento de proximidade e melhores acessibilidades aos seus espaços, mas não foram ouvidos.
Uma outra questão que é importante desmistificar e que, recorrentemente, é apontada como a solução de todos os problemas é a da “central de compras”, que não era mais do que uma média superfície de iniciativa local e não de uma multinacional. Como será fácil compreender essa média superfície poderia resolver o problema de uma minoria continuando a maioria tal como agora se encontra. No mercado actual, provavelmente já teria sido absorvida por um grande da distribuição. Acreditar que a “Central de Compras” resolveria os problemas dos 400 comerciantes da sede ou dos seiscentos de todo o concelho é o mesmo que acreditar no Pai Natal! No entanto ainda continua a ser um pseudo-argumento recorrentemente utilizado por aqueles que preferem olhar para o lado...
Minimizar os efeitos da crise e dos problemas do comércio não é fácil. Exigiria toda uma política, uma linha de pensamento, toda uma uma orientação estratégica. É essa a virtualidade das políticas integradas pois, quando é implementada uma medida para o desporto, são ponderadas todas as virtudes e inconvenientes para a globalidade das áreas de intervenção do poder. Esta sensibilidade tem faltado no município de Ponte de Lima e muitas medidas implementadas que, aparentemente, nada tinham a ver com o comércio, afectaram-no profundamente. Pense-se, por exemplo, nas consequências da deslocalização dos Serviços de Finanças das instalações actuais para a proximidade do Hospital. Serão tremendas para os espaços comerciais das suas imediações e para o Centro Comercial Rio Lima. E quem é o promotor imobiliário que pretende ver as Finanças num edifício seu: O Município de Ponte de Lima!
Daí a necessidade de um "programa de governo" para minimizar a crise com que se debate o comércio local, Sr. Amândio Pereira!

Outros posts sobre este assunto:
Nº 4
Nº 3
Nº 2
Nº 1
Será este o nosso modelo?