domingo, agosto 24, 2003

TURISTAS?
Nos idos anos de 1995, em reunião da Câmara Municipal de Ponte de Lima, alertei o executivo para a crescente degradação da nossa vila, sobretudo aos fins de semana, motivada pela escassa qualidade dos visitantes que, antes de visitarem, respeitarem, apreciarem e consumirem em Ponte de Lima, tiravam proveito do que de melhor a vila tinha para lhes oferecer, o rio, as margens a beleza natural, sem qualquer ponta de respeito. Apelidei esse fenómeno de "Turismo de Garrafão", que traz prejuízos à economia local e poucos benefícios. A mensagem foi muito mal recebida por alguns sectores do poder municipal instalado.
Hoje em dia, oito anos volvidos, e com os mesmos sectores municipais instalados, o problema continua, embora tenham sido tomadas algumas medidas para o tentar minimizar. No entanto, hoje, o que se vê não é de forma alguma agradável. Estacionamento desordenado, desorientado e nocivo para a paisagem e para o ambiente, acampamentos piratas ou pouco por toda a parte, com especial incidência nas margens do Lima, fogueiras e fogareiros um pouco indiscriminadamente pelas margens do Lima. Tudo isto se mantém, tal como existia já em 1995. Urge mudar, pensar num plano estratégico que dê dignidada a Ponte de Lima, a quem nos visita e a quem habita por estas terras, ao fim e ao cabo, aqueles que mais gostam do nosso verde, da nossa paisagem e a quem mais dói o estado das coisas.
Algumas sugestões:
1 - Impedir o acesso automóvel às margens do Rio Lima, com barreiras como as já existentes, entre a ponte da Guia e S. João;
2 - Proibir o trânsito, nos meses de Verão, entre S. João e a Ribeira;
3 - Construção de um parque de campismo em Ponte de Lima, para albergar o elevado número de campistas e proibir a prática do campismo nas outras zonas;

quinta-feira, agosto 21, 2003

CONTRA A INDIFERENÇA
A notícia caiu seca: "A Associação Desportiva os Limianos suspendeu a sua actividade", manietada pelas elevadas dívidas que contraiu, que a impedem de inscrever jogadores e de receber quaisquer receitas. Foi uma morte anunciada, que surgiu na sequência de longos anos de incerteza e dificuldades diversas, que culminaram com a ascensão à liderança do clube de direcções irresponsáveis, desconhecedoras da história, do clube e do próprio fenómeno futebolístico. Surgiu num momento significativo na vida do clube mais representativo de sempre, na história de Ponte de Lima - no ano em que celebrava o seu cinquentenário. Surgiu no meio de uma indeferença generalizada, que doi e que deve fazer ponderar todos os limarenses sobre as qualidades actuais da sociedade e a sua capacidade de intervenção e oposição ao destino. "Os Limianos" entraram em coma profundo, mas ninguém se importou. Talvez esteja a morrer um "fardo" que Ponte de Lima carregava há alguns anos, um fardo que foi incómodo para muitos mas também significou glória para outros e para o concelho, pois foi um dos seus maiores expoentes, que catapultou o nome Ponte de Lima para a ribalta, através do desporto, o fenómeno mais mediático que ajudou a promover muitos barões. Mas nada disto valeu na hora de reconhecer e assinar o mais que provável óbito.
A dor da indiferença é enorme e incomoda. Ponte de Lima não é um concelho muito propenso a revoltas nem a reacções acaloradas e emotivas. É um concelho conformado, conservador que não aprecia mudanças radicais nem mesmo revoluções tranquilas. Prefere ver tudo na mesma, mesmo que esteja mal, do que mudar para evitar a incerteza. Prefere deixar morrer, ou presenciar uma angustiante agonia do que tentar uma cura salvadora, mas que pode também matar o paciente.
As grandes revoltas e mobilizações populares ocorridas num passado recente em Ponte de Lima tiveram como centro ou como grande municiador, o Presidente da Câmara Municipal: foi a questão do encerramento da unidade da Lacto Ibérica, que movimentou inúmeros limianos, com Daniel Campelo à Cabeça ( alguém se lembra?), as tradicionais visitas de Paulo Portas a Ponte de Lima, com grandes banhos de multidão (velhos tempos!), a campanha de angariação de fundos para apoiar as vítimas dos recentes incêndios na zona centro e no Algarve (com excelentes resultados).
Estes factos levam-nos a pensar que, se Daniel Campelo assim quisesse, seria possível mobilizar Ponte de Lima e a sociedade limiana para salvar "Os Limianos". Não era necessário injectar dinheiro da autarquia, bastaria a vontade e o envolvimento do seu Presidente. Mas nada disso aconteceu. A A. D. "Os Limianos" pouco interessa à autarquia - embora Vereadores seus já tenham sido dirrigentes e atletas do clube. Preferem ver morrer o maior embaixador do concelho a dar um passo para garantir a sua história.

sábado, agosto 16, 2003

JUVENTUDE DIGITAL

Desde 1985 que foi instituido pela Assembleia Geral da ONU o "Dia Internacional da Juventude" e desde 1998 que esse dia se celebra a 12 de Agosto. De acordo com a Organização das Nações Unidas, são jovens aqueles que tiverem idade compreendida entre os 15 e os 24 anos. Existem no Mundo um bilião de jovens, cerca de 18% da população. Em Portugal são perto de um milhão e quatrocentos mil, mais de 14% dos portugueses. Trata-se de uma fatia significativa da população, uma faixa etária com problemas e necessidades específicas, para as quais devemos estar sensibilizados e atentos, mas também preparados para intervir, no sentido de dar resposta aos anseios e expectativas daqueles em quem depositamos a nossa esperança e a nossa ilusão. A ONU identificou como áreas prioritárias de actuação para a juventude as seguintes: Educação, Emprego, Fome e pobreza, saúde, ambiente, abuso e consumo de drogas, delinquência juvenil, ocupação de tempos livres, jovens mulheres, participação dos jovens na sociedade e nos processos de decisão. São, seguramente, temas que a todos nos preocupam, diferindo a prioridade do país para país, de continente para continente.
O tema definido pela ONU para o "Dia Internacional da Juventude" do corrente ano foi o do Emprego. Disse bem, Emprego e não desemprego. É um desafio com o qual se debatem os jovens de todo o Mundo, que representam cerca de 40% das pessoas que não têm emprego e que procuram um posto de trabalho. E é aqui que tudo se joga. É imprescindível que as novas gerações entendam que, hoje, é muito difícil conseguir um emprego estável, que muitas vezes o melhor caminho é o do empreededorismo, que a qualificação é uma trave mestra do mundo do trabalho, que o percurso de cada um é construído a partir da base, cimentado nos conhecimentos, na experiência, na formação e na capacidade individual. Quem não entender isto, estará completamente desfasado da realidade. Mas existe a outra face da moeda. O Estado tem também a responsabilidade de dinamizar a economia mantendo o equilíbrio das contas públicas, de apoiar o sector produtivo sem o condicionar e de promover o emprego. Se tal não acontecer, o avultado investimento dos Estado na educação será totalmente desperdiçado, já que os jovens depois da sua formação académica não terão acesso ao mundo do trabalho, onde pagariam impostos que, por sua vez, suportariam os serviços públicos.
Que o Dia Internacional da Juventude tenha constituído e continue a constituir um momento de reflexão sobre os problemas do jovens e sobre as perspectivas da sua resolução. Com toda a certeza que, da sua parte, contaremos sempre com a natural irreverência, mas também com a pereseverança e capacidade de corresponder aos maiores desafios.

Decorreu recentemente em Viana do Castelo mais uma Edição da "Minho Campus Party", uma iniciativa da Associação Industrial do Minho, que fez da capital do Alto Minho também a capital das novas tecnologias e da inovação. Foi um grande momento de exaltação das potencialidades do Minho no campo tecnológico e da inovação. Os mais de mil participantes no evento foram a prova disso mesmo, provenientes das mais diversas zonas do País. Passado o evento, e já a pensar no próximo, que fique sobre o Minho a auréola de região digital, onde a aposta nas novas tecnologias deve ser cada vez mais forte, potenciando todas as instituições que trabalham nesta área e aproveitando o valiosíssimo "know how" existente na universidade e politécnicos da região.

sexta-feira, agosto 15, 2003

O SENHOR TURISMO



Indiferente à polémica atribuição da distinção ouro a Alvarez – Cascos, o homem que ordenou que o navio “Prestige” fosse encaminhado para longe da costa espanhola, onde veio a afundar-se; alheio à manifestação de protesto pelo não reconhecimento, através de atribuição de medalha, do trabalho dos milhares de voluntários, para a remoção do “chapapote”, o Presidente da Região de Turismo do Alto Minho (RTAM), Francisco Sampaio, foi agraciado no dia 26 de Julho – Dia do Apóstolo e da Galiza - pelo Presidente da Junta da Galiza Fraga Iribarne, com a Medalha da Galiza, na sua categoria prata. Este gesto do Presidente da Xunta, representante de toda uma região cheia de afinidades linguísticas, culturais, patrimoniais, ambientais, paisagísticas e humanas com o Norte de Portugal, vem reconhecer todo o trabalho de Francisco Sampaio em prol do incremento das relações entre o Norte de Portugal e a Galiza. Não é vulgar que este galardão, atribuído desde 1984 na sua categoria ouro, e desde 1991 nas categorias prata e bronze, seja entregue a cidadãos portugueses. Por isso, apesar da reduzida expressão que esta distinção teve nos media nacionais, creio que é um facto digno de registo que, além de encher de orgulho o Presidente da RTAM, deve orgulhar o Norte de Portugal e provocar a reflexão sobre o que têm sido as relações da região Norte, e concretamente do Minho, com a Galiza, região pujante e empreendedora, que tem dado grandes saltos qualitativos no rumo do desenvolvimento e melhoria da qualidade de vida. A Galiza é uma região que potencia os seus recursos, que aposta nas suas grandes riquezas de uma forma aberta e descomplexada. Veja-se o caso do turismo, com a valorização dos recursos naturais e a aposta nas grandes potencialidades da sua costa; a gastronomia sempre muito ligada ao mar; o património histórico e cultural, cujo expoente máximo é Santiago de Compostela e os seus caminhos; mas também a indústria e os serviços, muito competitivos e agressivos. Foram anos de desenvolvimento que estão hoje a dar os seus frutos.

Tendo em conta o seu passado, a sua história, o seu percurso recente e as grandes afinidades com o Minho, para nós portugueses, a Galiza não deve constituir uma ameaça mas sim um desafio, um exemplo de que é possível fazer mais e melhor e, sobretudo, que nos faz entender que não podemos percorrer caminhos separados. A Galiza faz muita falta ao Minho assim como o Minho faz muita falta à Galiza. Francisco Sampaio, depois de quase vinte e cinco anos de trabalho e dedicação à frente da Região de Turismo do Alto Minho, pode ser a imagem de uma nova forma de estar, de um novo paradigma que não vê fronteiras, mas sim mercados, que não vê concorrência, mas sim oportunidades de negócios e desenvolvimento, que vê no Norte de Portugal e na Galiza um território comum que apenas a história quis separar.

A homenagem é merecida, e a ela me quero associar porque o homenageado inspira e expira Alto-Minho, mas também é um desafio e um acumular de responsabilidades, no sentido de promover ainda mais o desenvolvimento do turismo na área de influência da RTAM, de dotar aquela zona das infra-estruturas de que ainda carece, de tornar competitivo e atractivo o seu produto turístico, para que seja cada vez mais procurado e rentabilizado. É também um desafio para as autarquias locais, no sentido de olharem a indústria do turismo como uma mais valia e um dos melhores caminhos para desenvolverem as suas localidades, melhorando a qualidade de vida dos seus munícipes.

João Carlos Gonçalves

sábado, agosto 02, 2003

RIO DE MEMORIAS QUE TODOS DEVEMOS PROTEGER


Recentemente, a Câmara Municipal de Ponte de Lima promoveu, em colaboração com o Clube Náutico de Ponte de Lima uma descida do Rio Lima, com o objectivo de sensibilizar autarcas, dirigentes associativos e de instituições locais para a necessidade de preservar o Rio Lima e o belíssimo vale que o envolve. A descida foi efectuada em canoa e permitiu, pelo menos três coisas:

- Testar a condição física dos participantes, pois tiveram que pagaiar entre o cais da Garrida, em S. Martinho da Gandara e Ponte de Lima;

- Verificar a grande beleza e potencialidades do Vale do Lima, visto a partir do seu interior;

- Constatar que há ainda muito a fazer, tanto para corrigir erros do passado, como para evitar agressões ambientais no presente.

Hoje em dia, o rio do esquecimento dos romanos, inspirador de António Feijó, António Ferreira, Teófilo Carneiro, Diogo Bernardes e muitos outros poetas da Ribeira Lima já não tem as águas límpidas de outrora, já não corre no silêncio das suas próprias margens, cada vez mais ocupadas e sujeitas à especulação e avidez de empresários e particulares, que ainda pensam, de uma forma demasiado egoísta, que a sua desejada qualidade de vida não prejudica a dos outros. Mas são também as políticas, do poder central ou local que, não olhando para a valiosa herança dos nossos antepassados, não evitam a tentação de prejudicar o maior tesouro que a humanidade pode possuir: a qualidade do ambiente e a preservação da riqueza natural do nosso Planeta. O cuidado com o bem comum é responsabilidade de todos, um dever colectivo, uma expressão da mais profunda cidadania. Intervenções na natureza ou que dela tirem algum proveito devem ser objecto de discussão prévia, o mais alargada, profunda e universal possível. Não é uma discussão pública de um estudo de impacto ambiental, que decorre num curto espaço de tempo e é baseado em documentos essencialmente técnicos, que legitima uma intervenção – boa ou má. Só um debate sério e esclarecido, precedido de ampla divulgação pode viabilizar um projecto que utilize ou condicione o bem natural.

Nos últimos anos, muitas intervenções têm sido levadas a cabo nas margens do Rio Lima. Se umas o respeitaram, outras lamentavelmente usaram-no, prejudicaram-no e enfraqueceram-no. E a todos os limianos também. Por isso, numa atitude preventiva e legítima, devemos exigir que, com clareza, sejam devidamente esclarecidos os contornos e as consequências de quaisquer intervenções ou projectos delineados para as margens do Lima. Da nascente até à foz. O Lima, que já teve águas mais límpidas, é uma das maiores riquezas da região, que não podemos perder, custe o que custar.