REFLEXÕES SOBRE OS INCÊNDIOS (I)
O final da época oficial de incêndios ainda está longe, mas já se podem tirar algumas conclusões sobre a forma como têm decorrido os trabalhos de prevenção e combate aos incêndios florestais em Portugal.
a) Fica bem claro que apenas um bom Verão pode contribuir para que o número de incêndios diminua. Por bom Verão entenda-se um Verão chuvoso. Portugal tem, hoje, um clima totalmente adverso aos incêndios.
b) O mês de Agosto é, foi e tenderá a ser, maldito para as equipas de combate;
c) Notaram-se algumas melhorias na coordenação, sobretudo na capacidade de resposta e mobilização;
d) O maior aparato de meios foi sempre direccionado para os locais onde havia maiores incêndios, mas também maior aparato da comunicação social. Por vezes ficamos com a sensação que só ardia o que se via nos telejornais;
e) Esta constatação tem uma relação directa com o que se passou no nosso distrito, onde ocorreram alguns dos maiores incêndios e com mais elevados prejuízos do país. Refiro-me aos incêndios de Paredes de Coura (com especial realce para a Área Protegida do Corno de Bico) e Arcos de Valdevez e Ponte da Barca (Parque Nacional da Peneda Gerês). Como é possível que zonas protegidas e o único Parque Nacional de Portugal ardam incessantemente durante dias e dias, sem que os dispositivos fossem equipados devidamente para fazer frente ao fogo que lavrava sem cessar. Com o único helicópetro estacionado no distrito avariado, apenas um esteve durante algum tempo operacional na região (o de Braga), atacando o fogo que lavrava em zonas inacessíveis por terra. Os meios aérios eram os únicos que teriam alguma eficácia tanto na Peneda Gerês como no Corno de Bico e pouco ou nada se viu. Este canto foi esquecido porque, pura e simplesmente, a comunicação social não o viu. Vergonha!
f) Esta vergonha é tanto maior quando se constata que Viana do Castelo continua no top de número de ocorrências e área ardida e, também ano após ano, os meios aéreos são os mesmos. Para quem quer combate rápido e eficaz às chamas, logo após a ignição, um helicópetro é muito pouco, quando se sabe que, por exemplo, no Algarve (que já ardeu quase todo, extistem três meios aéreos, talvez para os fogos que surjam no mar...). É um desrespeito continuado que ainda ninguém no Alto Minho teve a coragem de denunciar!