sábado, novembro 11, 2006

Os maléficos weblogues

No passado, eram as trevas. Apenas alguns conseguiam ver a luz, normalmente os melhor colocados junto do poder instalado. Eram priveligiados, e exerciam um poder majestático: o da publicação. Os anónimos leitores, ouvintes e telespectadores nada podiam mais fazer do que ler, ouvir ou ver, numa miserável pose passiva de consumidor de uma mensagem de sentido único, sem direito de resposta.
O desenvolvimento tecnológico trouxe acessibilidade aos meios de edição e facilidade no acesso ao espaço público na perspectiva do editor. Os weblogues são ferramentas de fácil utilização e gestão, acessível a qualquer utilizador básico da informática.
São extraordináriamente democráticos no acesso.
Mas, como tudo na vida, também podem ser mal utilizados. A protecção que dão aos seus autores, garantindo-lhes facilmente o anonimato, permite abusos e o desvirtuamento dos fins para que foram criados. Exemplos são, infelizmente muitos, mas o mais recente com Miguel Sousa Tavares é perfeitamente esclarecedor.
Um weblogue pode também ser uma espinha atravessada na garganta da democracia, como o são folhas anónimas e boatos que frequentemente atravessam o espaço público.
A liberdade tem destas coisas!
Se os instrumentos que coloca à disposição geral forem mal utilizados ou caprichosamente utilizados com fins diversos daqueles para que foram criados, criam constrangimentos e distorções. Mas não são apenas os weblogues o bode espiatório da democracia.
Grande e central papel tiveram já na sua curta existência, sobretudo na difusão de informação sobre a guerra do Iraque, na divulgação do escândalo Bill Clinton/Mónica Lewinski, no debate político à escala planetária, no apoio à educação, etc., etc.
Os malefícios dos weblogues não estão no facto de existirem. Estão na mente de quem os quer utilizar com um fins diversos daqueles que presidiram à sua criação.
Não adianta, por isso, diabolizar os weblogs nem as opiniões que difundem. Em pleno século XXI, em plena revolução digital, não são mais do que as "gazetas" do séc. XIX, a imprensa, a rádio, a televisão e os sites do séc XX. Quando mal utilizados, equiparam-se às folhas anónimas, rádios e televisões piratas que atravessaram as vidas de muitos portugueses durante longos anos. A única diferença é que deixam na "sombra" muito menos gente...

A blogosfera segundo Pacheco Pereira.