E o abastecimento de água? E o saneamento?
Parece que quem cala consente. O silêncio que se abateu sobre Ponte de Lima depois de conhecidos os resultados das análises e estudos sobre os casos de duas mortes na Seara é sepulcral. Parece que não interessa falar, que o silêncio é de ouro. Para quem?
A minha consciência ficaria pesada se nada dissesse sobre o assunto. É que as autoridades sanitárias colocaram o dedo na ferida. Das análises efectuadas à água dos poços do concelho durante um ano, cerca de 40% dão-na como imprópria para consumo. Estes resultados são aterradores sendo saúde pública que está em causa, quando é sabido que são muitos milhares os limianos que ainda consomem todos os dias água que não provém da rede pública de abastecimento de água. E muitos desses poços estão inquinados porque existem fossas nas suas redondezas. Esta é a verdade nua e crua.
Aqui está a razão pela qual a reacção municipal à primeira análise - causa das mortes associada à febre da carraça - foi eufórica e arrogante procurando atingir tudo e todos, deixando de fora, obviamente, o município. Mas à segunda análise - leptospirose como co-autora do surto - já não houve reacções. É que a leptospirose pode ser transmitida pela água. E é aqui que reside o busilis da questão, o cerne de todo este enredo. Provavelmente, se o abastecimento de água às freguesias do concelho de Ponte de Lima fosse hoje uma realidade generalizada - como devia ser num País civilizado em pleno séc. XXI; Se o saneamento básico não fosse um luxo mas um bem acessível a todos aqueles que vivem em zonas urbanas e aglomerados populacionais - como devia ser num País civilizado em pleno séc. XXI; provavelmente hoje ninguém se esconderia no silêncio após duas mortes porque as probabilidades da leptospirose ter atacado seriam infinitamente mais reduzidas.
Mas, infelizmente, o silêncio impera, tanto do lado dos responsáveis pela política do granito e dos jardins e outros investimentos afins, como do lado dos que deveriam, numa atitude cívica e responsável vigiar e fiscalizar a sua actuação, mas que optam pelo seguidismo e apoio envergonhado.