O TGV do nosso descontentamento
O PSD de Ponte de Lima emitiu já uma posição sobre o projecto do TGV, explorando algumas incoerências do Município de Ponte de Lima relativamente a este megalómano projecto, que vai ajudar a destruir ainda mais a nossa dilacerada economia, sem que nunca fosse dada aos cidadãos uma perspectiva clara dos benefícios que da obra possam advir.
Enquanto que o PSD diz não ao projecto porque não é benéfico para Ponte de Lima (perspectiva bastante redutora da coisa...), o Município, perante o convencimento da sua inevitabilidade, apenas procurará minimizar os efeitos da sua passagem. Só que, nesta matéria, não teve nem nunca terá uma posição isenta, pois sempre apoiou a variante nascente, desviando, sabe-se lá porquê, o traçado da zona de Freixo e das Lagoas. O impacto na Paisagem Protegida, grande argumento apontado pelo Município, deve ser claramente esclarecido, pois o corredor definido para o traçado permite que o mesmo fique fora dos limites da PPL. Por outro lado, é fundamental que nos pratos da balança sejam colocados outros tipos de impactos. Além do impacto natural, sobre a paisagem e sobre as espécies, o impacto sobre as pessoas, aquelas que ficarão sem suas casas, aquelas que ficarão a reduzidos metros da infraestrutura, aquelas que, todos os dias, terão que sofrer com o ruído de um combóio a circular a 250 quilómetros hora, de uma vila que quer ser património da humanidade, que preserva os seus valores mas que aposta no TGV dentro da sua zona urbana, que condiciona o crescimento urbano da vila, que empurra sempre para os mesmos locais as grandes infraestruturas: auto-estrada, gasoduto e, agora, o TGV.
O que se pode pedir, neste período de consulta pública, é transparência na discussão e que todas as vantagens e inconvenientes dos dois traçados sejam colocados sobre a mesa, para uma apreciação informada de todo o projecto.
Declaração de interesse: Como sempre o fiz neste espaço, gostaria de aqui deixar um desabafo pessoal. O traçado nascente passa bem perto de minha casa. Obviamente gostaria que fosse o traçado poente o escolhido, eu e as centenas de famílias que vivem dentro do respectivo corredor, muitas mais do que as afectadas pelo corredor poente. Mas os argumentos aqui esgrimidos, são argumentos válidos e legítimos que têm mais peso e pertinência do que o único argumento que pode ser apresentado pelos defensores da alternativa nascente.
Por isso, gostaria que a discussão fosse centrada nos argumentos e não nas razões emocionais que apontam sempre para o "quintal do vizinho", mas temo que isso não seja possível para quem pode também vir a ter o "mamarracho" no seu quintal... ou perto dele.