segunda-feira, abril 07, 2008

Os hipers e o pequeno comércio

Está na agenda do Governo a abertura dos hipermercados na tarde de domingos e feriados. Nada que nos surpreenda, depois do "abaixo assinado" de 250 mil consumidores entregue ao Governo pelos representantes das grandes superfícies. E, neste particular, concordamos em absoluto com os nossos governantes, que entendem que os interesses do consumidor estão acima de qualquer outro, com toda a certeza acima do dos patrões e grandes proprietários das redes e cadeias de distribuição. Mas, adiante...

Ponte de Lima em nada vai ser afectada por essa medida, pois não há domingo ou feriado em que as superfícies comerciais instaladas no concelho não estejam de portas abertas. Benefício ao consumidor.

Como também sabemos, como referiu o editorial do "Diário de Notícias" de 23 de Março, que "o comércio tradicional faz mal em continuar a apontar as grandes superfícies como bode espiatório para a crise em que se encontra mergulhado. Nos últimos 12 anos, perdeu 70% de quota de mercado, entre 2005 e 2007 foram destruídos 54 mil postos de trabalho e os líderes associativos agitam o espantalho de mais cem mil desempregados até 2011. A culpa desta crise não é dos grandes retalhistas, mas sim do autismo e inércia dos pequenos comerciantes, que teimam em não se adaptar às mudanças de hábitos dos clientes". O editorial do DN, acrescenta mais à frente que "o pequeno comércio não está condenado à falência, como o comprovam o plano da Galp de inaugurar, nos próximos três anos, 644 novas lojas de conveniência da cadeia Tangerina e a decisão da Wal Mart (a número um mundial da distribuição) de apostar no retalho de proximidade, abrindo mercearias de bairro. Aqui lamentamos a ignorância do Editorial do DN, ao colocar no campo do pequeno comércio as cadeias das multinacionais Galp e Wal Mart, pertencentes a poderosíssimos grupos económicos que nada, mas mesmo nada, têm de pequenos comerciantes, assentes na estrutura familiar e nos laços de proximidade com os habitantes das zonas em que estão implantados. Mas o DN dá a receita, que não pode de forma alguma ser ignorada: "Para prosperar, os pequenos comerciantes têm de saber inovar na oferta de produtos, adoptar os horários à conveniência dos clientes e melhorar o atendimento".

Cá pelo nosso burgo já sabíamos isso. Agradecem, por isso, os pequenos comerciantes a oportunidade que lhes foi dada pelo PROCOM e URBCOM, como agradecerão o FINICIA agora aprovado pelo Município, numa parceria com o IAPMEI, e que está a ser implementado também um pouco por todo o distrito e por todo o país. Com esta ajuda foi possível modernizar o comércio local, criar melhores condições para os comerciantes e seus clientes, inovar na apresentação e nos produtos a comercializar, tornar em suma os estabelecimentos mais atractivos para quem compra no comércio tradicional e quem nos visita, assumindo, quando possível, a necessária ruptura com os produtos e estilo das médias e grandes superfícies.

Mas, infelizmente, isto não chega, apesar de esforços inglórios, e em alguns casos isolados, de marcar a diferença, sobretudo nos horários e na abertura ao fim-de-semana.

É necessário dar corpo a estas mudanças, envolver TODOS os comerciantes neste grande desígnio, fazer entender à sua estrutura representativa que é necessário trabalhar para que a generalidade dos seus associados e não associados se adaptem aos novos tempos; que a formação que é ministrada dentro das suas portas não pretende apenas viabilizar financeiramente a própria instituição, mas deve visar dar instrumentos de actualização e melhoria do atendimento aos comerciantes locais e seus funcionários; que é necessário criar associações de comerciantes por ruas ou zonas, para implementar acções promocionais e animação local.
Mas, aqui, tudo tem falhado.

Como tem falhado a sensibilidade do Município para entender os problemas específicos do comércio local. Que não pode viver apenas ao domingo, que os espaços devem ser atractivos e atrair pessoas durante toda a semana; que é necessário repovoar e requalificar o centro da vila e fazer "mea-culpa" pela incrivelmente desajustada localização das superfícies comerciais abertas no concelho. que é necessário levar novamente serviços para o Centro Histórico, criando polos de atracção suplementares; que é necessário dar uma auréola a Ponte de Lima, de vila histórica, monumental, mas com animação permanente.

É necessário tudo isto e muito mais. Não chega atirar todas as responsabilidades para cima dos comerciantes que, mais do que ninguém, se interessam pelos interesses do consumidor, aqueles que permitirão garantir o seu sustento.
Esta é uma tarefa de todos: Comerciantes, Associação Empresarial e Município.