Rio Lima merece ser debatido
A Comissão Política do PSD de Ponte de Lima levou a cabo no passado dia 1 de Agosto um colóquio/debate sobre o Rio Lima, que contou com a presença de um dos maiores estudiosos daquele curso de água, o Eng. Horácio Faria.
Esta iniciativa veio trazer para a primeira linha do debate local uma problemática que, quando não é esquecida, é seguramente minimizada, senão mesmo menosprezada, pelos responsáveis políticos locais.
A nós parece-nos que o Rio Lima está a ser muito mal tratado e que merece um debate cívico em torno do seu futuro, relativamente aos atentados que sofre, problemas e desafios que lhe são colocados e ao nível das potencialidades que o mesmo encerra e que não têm sido devidamente potenciadas.
O que hoje verificamos é que o investimento realizado durante a segunda metade da década de noventa em praias fluviais e zonas de lazer no Rio Lima está totalmente abandonado e desvalorizado. Quem não se recorda da Praia Fluvial do Arnado, de Vitorino das Donas, de Bertiandos, de Refoios. Hoje não ouvimos, ou ninguém quer ouvir falar em Ponte de Lima de praias fluviais, porque as águas não têm condições, porque as "praias não existem".
Será admissível uma atitude deste tipo? Julgamos que não. E para que o debate do PSD pudesse ter efeitos plenos faltou na mesa dos palestrantes aquele que mais tem denunciado os atentados perpretados contra o rio nos últimos 20 anos: Amândio Dantas e o Molima - Movimento para a Defesa do Rio Lima.
Se as águas tinham condições no final da década de noventa quando foi hasteada no Arnado a Bandeira Verde - com pompa e circunstância e com grande relevo dado ao investimento no Rio - também deveriam possuir essas qualidades hoje, tendo em conta que - teoricamente - os cuidados, sensibilidade e exigências ambientais são maiores. Dizia-se por altura da construção da ponte da A3 que, momentaneamente, o rio deixaria de ter condições para os banhistas. Pois desde esse momento, deixamos de ter água própria e praias em Ponte de Lima...
Os atentados continuam, com descargas cíclicas no leito do Lima ou seus afluentes. Como ciclicamente somos assaltados por um dos grandes paradoxos do nosso tempo: O INAG declara as praias fluviais do Arnado e D. Ana interditas à prática balnear, por terem obtido uma classificação de "má". Por parte do Município, o encolher de ombros habitual, porque aqueles espaços "estão desclassificados há 3 anos" porque "a qualidade da água não podia ser controlada por via das descargas clandestinas". Só que a classificação daqueles praias apenas termina em 2009, por exigência comunitária assumida contratualmente com o Município, devido ao financiamento obtido.
O que há a fazer? Parece que não existe outra via: fiscalização implacável e aumento do nível de exigência para com os prevaricadores. Por outro lado, investimento num dos maiores activos do concelho, inspirador de poetas, "padrinho" de Ponte de Lima, referente no imaginário dos limianos. Esta sim, seria uma atitude responsável e na defesa do interesse das populações.
Por seu turno, o Clube Náutico de Ponte de Lima, que tantas alegrias e títulos tem trazido para Ponte de Lima vive do Rio Lima, seu grande campo de trabalho. Embora os resultados tenham aparecido, só é possível evoluir se o rio for desassoreado na sua área de treinos, sobretudo em frente às suas instalações. Outro importante tema para debate, onde também é necessária sensibilidade evitando meter a cabeça na areia, tão bem ilustrada pelo jardim que venceu o Festival 2007.
(as citações são retiradas do jornal Diário do Minho de 29 de Julho de 2008)