sábado, setembro 20, 2003

O Diário Digital referiu-se assim à presença de Portas nas Feiras Novas 2003:
Portas acede a convite de Daniel Campelo
O ministro de Estado e da Defesa Nacional, Paulo Portas, acedeu a um convite do presidente da Câmara de Ponte de Lima, Daniel Campelo, para estar presente nas festas das Feiras Novas.
Depois do autarca ter ajudado a viabilizar, como deputado, um Orçamento de Estado do Governo PS à revelia das instruções do CDS/PP, que votou contra, esta é a primeira vez que Campelo e Portas estarão juntos numa cerimónia pública.
«Sempre disse que nunca me zangaria e nunca me zangarei politicamente, porque isso poderia ser um erro muito grande para o município», disse Daniel Campelo à Rádio Renascença.
Para o autarca, «é bom que se saiba que o respeito institucional deve prevalecer sempre sobre qualquer divergência de pessoas, portanto, não é uma questão apenas de amizade, é uma questão institucional», explicou ainda.


Nota do Público sobre a visita de Paulo Portas a Ponte de Lima:

Portas vaiado em Pote de Lima
Paulo Portas falava em Ponte de Lima, onde se deslocou para presidir ao cortejo etnográfico das festas concelhias, mais conhecidas por Feiras Novas, tendo sido recebido com alguns apupos e assobios.
Os populares manifestavam assim o seu descontentamento pelo facto de Paulo Portas, na qualidade de presidente do CDS/PP, ter inviabilizado a candidatura de Daniel Campelo por este partido à Câmara de Ponte de Lima, há dois anos.
A decisão de Paulo Portas resultou da aprovação do Orçamento de Estado de 2001, apresentado pelo Governo de então, chefiado por António Guterres.
Na altura, Campelo era deputado do PP e, à revelia do partido, decidiu juntar o seu voto ao da bancada parlamentar socialista, garantindo assim a aprovação do Orçamento de 2001, em troca de uma série de investimentos no seu concelho e no distrito de Viana do Castelo.
Esta posição valeu a Daniel Campelo a suspensão do CDS/PP até ao final da anterior legislatura, o que na prática inviabilizou a sua candidatura à Câmara de Ponte de Lima em Dezembro de 2001 nas listas do partido.
Campelo concorreu como independente e manteve a presidência da autarquia.
Esta visita de Paulo Portas a Ponte de Lima, embora seja feita na sua qualidade de membro do Governo, deverá marcar o início da reaproximação entre Daniel Campelo e o seu partido de sempre.
É a primeira vez que Daniel Campelo e Paulo Portas se apresentam juntos em público depois do afastamento provocado pela aprovação do Orçamento de 2001, que ficou conhecido como "o orçamento limiano".

A RTP enveredou pelo mesmo tom:
Ponte de Lima recebe Paulo Portas com apupos e assobiosO ministro de Estado e da Defesa, Paulo Portas, foi sábado recebido com alguns apupos e assobios em Ponte de Lima, aonde se deslocou para assistir ao cortejo das festas concelhias, conhecidas por Feiras Novas.
Os populares manifestavam assim o seu descontentamento pelo facto de Paulo Portas, na qualidade de presidente do CDS/PP, ter inviabilizado a candidatura de Daniel Campelo por este partido à Câmara de Ponte de Lima.
A decisão de Paulo Portas veio na sequência do "caso" da aprovação do Orçamento de Estado de 2001 (OE/2001), apresentado pelo Governo de então, chefiado por António Guterres.
Na altura, Campelo era deputado do PP e, à revelia do partido, decidiu juntar o seu voto ao da bancada parlamentar socialista, garantindo assim a aprovação do OE/2001, em troca de uma série de investimentos no seu concelho e no distrito de Viana do Castelo.

Os jornais de domingo também abordaram a surpreendente visita de Portas a Campelo, ou a Ponte de Lima, ou às festas.

O DN escreveu o seguinte:
Paulo Portas recebido com apupos
MIGUEL RODRIGUES
O ministro de Estado e da Defesa, Paulo Portas, foi ontem recebido com apupos e vaias por alguns populares de Ponte de Lima, quando se preparava para assistir, ao lado de Daniel Campelo, presidente da câmara, ao cortejo etnográfico das festas do concelho, conhecidas por Feiras Novas.
«Campelo nunca deveria tê-lo deixado entrar outra vez em Ponte de Lima», afirmou um popular. Mesmo junto à bancada e preparando-se para assistir ao cortejo, um outro popular vaticinou: «Campelo errou e se calhar a população poderá interpretar mal este gesto». Outros, no entanto, pareciam entender a situação. «Isto é normal, são os jogos da política», afirmou um homem, enquanto ajustava o banco para se sentar na avenida para assistir ao desfile.
Portas e Campelo entraram em ruptura durante o processo da votação do Orçamento de Estado (OE) de 2001. O autarca de Ponte de Lima, então deputado pelo CDS, viabilizou, com a sua abstenção, o OE do Governo do PS de António Guterres, contrariando o sentido de voto do partido. Depois, Campelo foi suspenso do CDS. Até ao ano passado.
Ontem, o presidente do CDS referiu que ele e o autarca «tiveram um problema duro e sério» com essa votação, pois o deputado «entendeu que defendia a sua terra». «Eu tive que abrir um processo disciplinar porque entendi que esse voto prejudicou o País».
Segundo Portas, «foi uma sanção pesada, talvez das maiores dentro do partido, que Daniel Campelo cumpriu», tendo «recuperado posteriormente os seus direitos».
Perante a moderação das palavras do líder, o autarca respondeu com alguma prudência. «Não é preciso fazer as pazes porque tudo não passou de uma divergência», algo que «é normal», pois «eu aceito entrar em rota de colisão com o meu partido quando não concordo», realçou. «Nunca jurei obediência partidária, mas sim à minha consciência.»
Em declarações aos jornalistas, Paulo Portas defendeu que Portugal deve continuar empenhado no controlo do défice e no equilíbrio das contas públicas, para, no futuro, poder baixar os impostos aos cidadãos e às empresas.

O JN viu assim o reencontro dos dois populares:

Portas foi apupado na terra de Campelo
Polémica Ministro da Defesa e autarca garantem que voltariam a fazer o mesmo População não perdoa

Raquel de Melo
Assobios e apupos marcaram a recepção, no mínimo fria, da população limiana ao ministro da Defesa e líder do CDS-PP.
"Ambos voltaríamos fazer o que fizémos e sem ressentimentos", disse Paulo Portas a Daniel Campelo, ontem, em Ponte de Lima, na despedida da visita oficial do ministro da Defesa às festas do concelho.
Foi uma frase que sintetiza o relacionamento entre ambos, recordando a divergência entre eles, quando, em 2000, o autarca, então deputado do CDS-PP, viabilizou, à revelia da orientação oficial do partido, um Orçamento de Estado proposto pelo Governo de Guterres. Seguiram-se acusações mútuas e um processo disciplinar, que culminaram com uma candidatura independente vitoriosa de Campelo à Câmara de Ponte de Lima.
"Tivémos um problema sério há uns anos. Ele votou um orçamento a defender a sua terra e o tive de lhe abrir um processo disciplinar, porque entendi que prejudicava o país", recordou Portas.
Foi imposta uma sansão "das mais severas que houve no partido e que Daniel Campelo cumpriu até ao último dia", agora, como recordou Portas, já recuperou a sua condição de militante do partido.
O autarca garante que "nunca houve guerra" e diz ter acreditado que a viabilização do Orçamento "era o melhor para o país e para as pessoas".
Convidado de honra das Feiras Novas como ministro da Defesa, Portas não foi à zona mais central da vila, limitando-se a percorrer o trajecto entre os Paços do Concelho, onde se reuniu com Campelo, e a tribuna. Um percurso curto mas suficiente para se ouvirempoucos aplausos e muitos apupos e assobios, que foram rapidamente minimizados por Daniel Campelo.
Já na qualidade de militante, Campelo, também presidente da assembleia distrital do CDS-PP, garante "não ter qualquer interesse particular por não ser candidato a nada"e admitiu poder ter compromissos que o impeçam de ir ao conclave.

E do Público
Portas e Campelo Reconciliam-se Entre Sorrisos e Apupos
Por MARIANA OLIVEIRA
Domingo, 21 de Setembro de 2003

A reconciliação oficializou-se. Um ministro da Defesa bronzeado e sorridente assistiu ontem ao cortejo etnográfico que integra as festas de Ponte de Lima, as Feiras Novas, ao lado de um presidente da câmara não tão bronzeado, mas igualmente sorridente. Paulo Portas e Daniel Campelo evitaram a palavra reconciliação e não esconderam as divergências conceptuais, mas não conseguiram negar a evidência do primeiro reencontro público, após o autarca do PP ter viabilizado o orçamento de Estado de 2001, no Governo Guterres.
"Se o Senhor perdoou a quem o matou porque é que o presidente Campelo não ha-de perdoar ao dr. Paulo Portas?", questionava Jacinta Gonçalves, uma residente no concelho, que vem todos os anos às Feiras Novas. A limiana que esperou duas horas para garantir um lugar na primeira fila, mesmo em frente ao palanque onde estavam os convidados VIP, concorda com a reconciliação, mas deixa algumas reservas: "Se fosse comigo, eu não perdoava porque ele [Paulo Portas] insultou-o [Daniel Campelo] muito".
Talvez porque as palavras do líder do PP ainda permanecem na memória de alguns limianos, à chegada Paulo Portas foi recebido com alguns apupos. Mas os assobios tiverem pouca convicção e não chegaram para estragar a festa. "Não reparei em nada, mas é normal que haja sempre uma ou outra pessoa descontente", referiu Daniel Campelo.
Bebericando e "piquenicando" broa e alguns doces da região, o cortejo foi passando pelo palanque. As nuvens ameaçaram, mas a chuva foi de pouca dura. Os visitantes não se deixaram intimidar e sentados nos pequenos bancos, com guarda chuvas em punho, não arredaram pé.
No final do cortejo, Daniel Campelo negou ter-se zangado alguma vez com Paulo Portas. "Nunca houve guerra, houve divergências e há divergências". Apesar da recusa lá foi dizendo que esta é uma forma de mostrar que não tem "nenhum problema de relacionamento com o dr. Paulo Portas ou com outros ministros do Governo". Reforçou que continua a ter as mesmas concepções e a mesma noção de liberdade política. "Nunca jurei nem vou jurar obediência a um partido; só juro obediência à minha consciência", afirmou o presidente da Câmara de Ponte de Lima.
O ministro Paulo Portas não teve problemas em assumir que teve com Campelo "um problema duro e sério". E recordou o motivo das divergências: "O engenheiro Campelo votou a favor de um orçamento porque defendia que servia a sua terra, enquanto eu penso que o projecto prejudicava o país". O líder do PP lembrou, no entanto, que a suspensão de Campelo do partido estava limitada à passada legislatura e, por isso, já foi ultrapassada. "O engenheiro cumpriu até ao último dia as sanções que lhe foram aplicadas e depois recuperou os seus direitos".
Em altura de pazes, poucos se lembram das palavras já longínquas dos políticos. Portas afirmou que perante a atitude de Campelo só havia um caminho, "a separação", reforçando a natureza "irreparável" do gesto. "Prefiro perder uma câmara a perder a alma", disse o líder do PP. Por seu turno, Campelo sustentou que "os líderes passam e o partido fica", mostrando-se "desiludido, cansado e revoltado" com a posição assumida pelo partido. Mas palavras passadas não movem moinhos.