terça-feira, setembro 21, 2004

Parar para pensar sobre as "Feiras Novas"

Normalmente quem levanta a voz contra algum aspecto menos positivo das Feiras Novas, é logo apelidado de não gostar das festas, de as querer destruir, de não gostar de Ponte de Lima...
Mesmo correndo esses riscos, não gostaria de deixar passar esta oportunidade - que deve ser de balanço e reflexão - para apontar alguns aaspectos menos positivos daquela que considero a melhor e maior festa popular do Alto Minho e uma das mais significativas e concorridas do Norte de Portugal. O objectivo desta curta reflexão é constribuir para a necessária e permanente reforma da romaria, numa perspectiva evolutiva, capaz de acompanhar os desafios e as necessidades que, ano após ano, vão sendo acrescentados pelos diversos actores e intervenientes na festa.

1. A data. Existe uma corrente de opinião que pretende alterar a data das festas para o segundo fim-de-semana de Setembro, tendo em conta diversos factores, entre os quais se contam as contingências climatéricas e a realização das festas antes do final das férias escolares. Concordo com essa perspectiva. O terceiro fim-de-semana de Setembro começa a ser demasiado tardio para muitas agendas e esta antecipação pode beneficiar a adesão de público à grande romaria.

2. A organização do espaço da festa. Aqui começam os problemas. Parece que o espaço é reduzido para tanta demanda de tendas, rulotes, barracas, divertimentos, etc., etc. E, efectivamente, é. E quando o espaço é limitado para tanta procura só existe uma solução: seleccionar. Definir um número razoável de lugares, procurar uma diversidade equilibrada de ramos comerciais e de lazer e não admitir nem um mais do que aqueles que o espaço pode albergar. Dizia-me um amigo que as festas não têm mais gente. A gente é que tem cada vez menos espaço para se movimentar. A festa necessita de espaço para respirar, para amplificar as suas virtudes para possibilitar que as gentes se encontrem e confraternizem. Libertar a Avenida dos Plátanos - sempre foi um extraordinário espaço de passeio e convívio, aliviar o Passeio 25 de Abril - é o centro da festa. Estender a festa pela futura Feira do Gado - diversificando os ramos instalados naquele espaço - e pelo areal paralelo a S. João.

3. Estacionamento. Aumentar significativamente o número de parques de estacionamento e melhorar o acesso aos mesmos, através de parceriaas diversas com privados e movimento associativo. O Estacionamento deficiente nos acesso a Ponte de Lima causou constrangimentos enormes, com prejuízo eveidente para asa pessoas e para a festa.

4. As casas de banho. Julgo que ninguém poderá ser surpreendido pelos largos milhares de pessoas que demandam Ponte de Lima durante as festas. Como mais vale prevenir, julgo que já é hora de serem instaladas casas de banho provisórias pelos diversos espaços da festa, capazes de dar resposta às enormes solicitações a aliviar as dos estabelecimentos comerciais que, por esta época, são poucas e pequenas para as solicitações sendo literalmente inundadas por tantos pretendentes. Este é um verdadeiro serviço público!

5. As festas da festa. Se por um lado a festa popular é rainha, com participação e adesão geral, independentemente da idade, do sexo ou da profissão, uma outra festa existe mais do agrado dos mais jovens e que constitui já um cartaz à parte dentro das próprias Feiraas Novas. O seu crescimento tem sido impressionante, sem que o espaço onde decorre tenha sido aumentado, criadas regras de funcionamento e tomadas medidas para prevenir possíveis problemas, sempre à espreita em contextos de grande aglomeração de público. Qualquer situação de pânico naquele local pode ter consequências catastróficas. A zona das Pereiras é pequena, sendo necessário incentivar o seu alargamento a outros pontos da vila, se possível contíguos; Deve ter uma duração temporal limitada, tanto para a animação musical, como para ó próprio horário de abertura dos estabelecimentos; Devem ser criados espaços alternativos, com horários complementares, para que a festa continue sem prejuízo para ninguém - a solução de S. João parece boa, desde que tenha condições de higiene, salubridade, iluminação e segurança para o efeito.

6. O primado da cerveja. A cerveja é a única bebida alcoólica que consumo, por isso nada me move contra ela. Mas o primado da cerveja sobre todas as outras bebidas, inclusivé o vinho verde, não é a melhor promoção para os produtos regionais. O seu nome está em toda a parte, o caminho da exclusividade está trilhado e a um passo de ser atingido. Parece um grande negócio para a cervejeira patrocinadora, a sua presença nas Feiras Novas, com consumos elevadíssimos, quiçã maiorees do que uma queima das fitas, com contrapartidas reduzidas, se tivermos em conta os lucros alcançados. Situação que parece ser de rever, urgentemente.

7. O negócio das festas, ou o primado do lucro em detrimento da própria festa. Esta parece ser a conclusão dos pontos anteriores, a inevitável moral da história. Hoje parece que as festas devem, são obrigadas a gerar receitas, aliviando a participação financeira da autarquia. O princípio enunciado parece-me correcto, masa a sua execução está a tornar-se numa obsessão. Gerar receitas, sim sobretudo junto daqueles que obtêm chorudos benefícios com a romaria. Mas esse não deve ser um fim em si mesmo, antes um meio para atingir um fim. Menos comerciantes, menos espaços ocupados, talvez tarifas maiores em nome das boas condições de trabalho e diminuição da concorrência, melhores condições para o público, que ele próprio pode gerar receitas comprando lugares para assitir aos diversos números da festa; participação financeira fixa da Câmara Municipal que deve estar sempre comprometida com a organização, tal como o faz desde a instauração da democracia.

8. Promova-se uma reflexão pública sobre as Feiras Novas. As festas são populares, para o povo, e são colocadas no terreno por gente que representa as instituições da terra. Mas é necessário que todos saibam o que pretende a Comissão de Festas para o futuro, qual o caminho que deseja que as festas trilhem e, numa atitude de abertura e humildade, saber ouvir o que o povo que das festas do concelho. Aqui fica a proposta: uma sessão pública de reflexão e debate sobre as "Feiras Novas".