sexta-feira, agosto 15, 2003

O SENHOR TURISMO



Indiferente à polémica atribuição da distinção ouro a Alvarez – Cascos, o homem que ordenou que o navio “Prestige” fosse encaminhado para longe da costa espanhola, onde veio a afundar-se; alheio à manifestação de protesto pelo não reconhecimento, através de atribuição de medalha, do trabalho dos milhares de voluntários, para a remoção do “chapapote”, o Presidente da Região de Turismo do Alto Minho (RTAM), Francisco Sampaio, foi agraciado no dia 26 de Julho – Dia do Apóstolo e da Galiza - pelo Presidente da Junta da Galiza Fraga Iribarne, com a Medalha da Galiza, na sua categoria prata. Este gesto do Presidente da Xunta, representante de toda uma região cheia de afinidades linguísticas, culturais, patrimoniais, ambientais, paisagísticas e humanas com o Norte de Portugal, vem reconhecer todo o trabalho de Francisco Sampaio em prol do incremento das relações entre o Norte de Portugal e a Galiza. Não é vulgar que este galardão, atribuído desde 1984 na sua categoria ouro, e desde 1991 nas categorias prata e bronze, seja entregue a cidadãos portugueses. Por isso, apesar da reduzida expressão que esta distinção teve nos media nacionais, creio que é um facto digno de registo que, além de encher de orgulho o Presidente da RTAM, deve orgulhar o Norte de Portugal e provocar a reflexão sobre o que têm sido as relações da região Norte, e concretamente do Minho, com a Galiza, região pujante e empreendedora, que tem dado grandes saltos qualitativos no rumo do desenvolvimento e melhoria da qualidade de vida. A Galiza é uma região que potencia os seus recursos, que aposta nas suas grandes riquezas de uma forma aberta e descomplexada. Veja-se o caso do turismo, com a valorização dos recursos naturais e a aposta nas grandes potencialidades da sua costa; a gastronomia sempre muito ligada ao mar; o património histórico e cultural, cujo expoente máximo é Santiago de Compostela e os seus caminhos; mas também a indústria e os serviços, muito competitivos e agressivos. Foram anos de desenvolvimento que estão hoje a dar os seus frutos.

Tendo em conta o seu passado, a sua história, o seu percurso recente e as grandes afinidades com o Minho, para nós portugueses, a Galiza não deve constituir uma ameaça mas sim um desafio, um exemplo de que é possível fazer mais e melhor e, sobretudo, que nos faz entender que não podemos percorrer caminhos separados. A Galiza faz muita falta ao Minho assim como o Minho faz muita falta à Galiza. Francisco Sampaio, depois de quase vinte e cinco anos de trabalho e dedicação à frente da Região de Turismo do Alto Minho, pode ser a imagem de uma nova forma de estar, de um novo paradigma que não vê fronteiras, mas sim mercados, que não vê concorrência, mas sim oportunidades de negócios e desenvolvimento, que vê no Norte de Portugal e na Galiza um território comum que apenas a história quis separar.

A homenagem é merecida, e a ela me quero associar porque o homenageado inspira e expira Alto-Minho, mas também é um desafio e um acumular de responsabilidades, no sentido de promover ainda mais o desenvolvimento do turismo na área de influência da RTAM, de dotar aquela zona das infra-estruturas de que ainda carece, de tornar competitivo e atractivo o seu produto turístico, para que seja cada vez mais procurado e rentabilizado. É também um desafio para as autarquias locais, no sentido de olharem a indústria do turismo como uma mais valia e um dos melhores caminhos para desenvolverem as suas localidades, melhorando a qualidade de vida dos seus munícipes.

João Carlos Gonçalves